Indústria têxtil se equilibra para sobreviver na guerra com chineses

Indústria têxtil se equilibra para sobreviver na guerra com chineses

20120313073956711726u

As fábricas de tecido no Brasil já não apitam como no tempo de Noel Rosa. Detonadas pelo real valorizado e pela importação de produtos da Ásia, as indústrias têxteis brasileiras tiveram em 2011 um de seus anos mais amargos. Parece piada de mal gosto, mas enquanto a produção industrial do segmento têxtil registrou queda de 14,88% e a de confecções de 4,4% no ano passado, as vendas no varejo dos dois segmentos subiram 11,82%. A aparente contradição é explicada pelo aumento do volume de produtos do segmento provenientes principalmente da China que está chegando ao país. Nos cálculos do presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, que também comanda a Cedro Cachoeira, uma das mais tradicionais companhias do setor em Minas, de 2010 para 2011, o segmento deixou de gerar cerca de 280 mil empregos. Para fazer esse cálculo, ele levou em conta as vagas perdidas e as que deixaram de ser geradas em toda a cadeia nos últimos dois anos.

Em Pará de Minas, na Região Central do estado, uma das quatro fábricas de tecido que fizeram história no município está agonizando e as outras três rodam em situação difícil. Segundo Aprígio Guimarães, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria, a Fábrica Moderna de Tecidos (Famotec), que já teve 270 empregados, hoje só tem 30. “A Famotec está esperando que o soro seja desligado para morrer. A importação de tecidos está arrebentando o brasil inteiro.” Dificuldades do mesmo calibre se replicam em regiões como Americana, em São Paulo, e no Recife, capital pernambucana, locais onde as fábricas de tecidos foram praticamente dizimadas, segundo Júlio Morais, presidente da Cooperativa de Produção Têxtil de Pará de Minas, que já contou com 320 cooperados e hoje tem 200.

A dificuldade de concorrer com os importados está sendo intensificada pela guerra dos portos, que usa como arma descontos de até 80% na alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para produtos importados e é praticada em 10 estados da federação: Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Maranhão. “Com isso, produtos fabricados no Brasil pagam 12% de ICMS enquanto que os que vêm de fora chegam a pagar algo em torno de 2%”, calcula Flávio Roscoe, presidente da fabricante de malhas Colortêxtil. No ano passado, a balança comercial da indústria têxtil registrou déficit de US$ 4,9 bilhões na comparação com 2010. Desse total, 44% entraram pelos portos que dão incentivos à importação.

Fatia desigual

“A situação está mais complexa do que nunca. A participação dos importados só vai crescendo”, observa Roscoe. Em janeiro, a chegada oficial de importados confeccionados avançou 70% em comparação com o mesmo período do ano passado e a de têxteis, 20%. A situação já obrigou o grupo Colortêxtil – que conta com duas fábricas em Minas e uma no Nordeste – a reduzir em 20% a fiação e a demitir 50 dos 380 funcionários. Há três anos, eram 500. “Os preços estão muito ruins. Sempre que a demanda está menor do que a oferta, eles caem. O dólar vai caindo e a margem (de lucro) vai apertando. A única saída é reduzir a produção.”

Nos cálculos do empresário, o quilo de tecido comprado da China chega ao país entre 10% e 25% mais barato do que o fabricado em território nacional. No caso das roupas, a invasão se dá principalmente no segmento masculino da moda, menos complexo do que o feminino. Nesse caso, segundo Roscoe, a diferença varia de 10% a 50% em cada peça, a favor dos importados.

Em 2011, a indústria de confecções, que engloba desde o vestuário até roupas de cama, mesa, banho e cortinas, registrou aumento de importações de 32,6% em toneladas e de 57,9% em dólares na comparação com 2010. Na indústria do vestuário, as importações saltaram de US$ 1,07 bilhão em 2010 para US$ 1,72 bilhão no ano seguinte. E no segmento de tecidos essa variação foi de US$ 1,35 bilhão em 2010 para US$ 1,58 em 2011. “Estamos gerando emprego na China. O importante para o Brasil não é um produto barato. O bom para o consumidor é emprego e renda. O Brasil está entregando o mercado interno, o seu maior ativo para enfrentar crises. A indústria brasileira não está usufruindo do mercado interno”, desabafa Aguinaldo Diniz.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *